MARCOS
Refletindo, Undertaker imaginou que para receber alguém em sua casa, de pijamas, era necessário intimidade. Se o homem era um cientista, tempo de sobra era algo que ele não tinha. Devia virar as noites acordado, acordar muito cedo, ou nem ao menos dormir. A visita deve ter ocorrido muito cedo ou muito tarde para pegar o cientista fora do trabalho, literalmente de ceroulas.
Claro, tudo era especulação.
Olhou para o piso de madeira, e abaixou-se para encará-lo contra a luz. Diante da porta. Haviam resquícios de pegada. Marcas de gordura e sujeira bem superficiais. Várias. Umas pegadas ali eram bem, bem grandes.
-UNDERTAKER! AQUI!Fulgor o chamava. Undertaker seguiu a voz, vinha de um corredor distante da sala. Seguiu por ele já empunhando sua arma, preparado para tudo. Chegou em um cômodo que era uma pequena biblioteca. Encontrou as estantes reviradas, uma delas estava partida, caída no chão em meio aos muitos livros. Onde deveria haver uma parede, atrás dessa estante caída, havia uma passagem. Degraus.
De lá vinha a voz de Fulgor.
Undertaker desceu as escadas de metal, não enxergando nada lá dentro. Chegou em um corredor estreito e gelado. A única luz vinha de uma sala à esquerda. A luz vinha de Fulgor, e de algumas telas a sua frente. Parece que o cientista possuía um Porão do Pânico, ou um lugar bem seguro debaixo de sua casa. Ou não tanto. O computador estava bem destruido, amassado, e parte de sua CPU havia sido simplesmente rasgada.
Fulgor digitava em um teclado, e exibia em um dos monitores algumas gravações.
-É tudo o que eu consegui recuperar. Está sem áudio. A gravação em preto e branco, feita há dois dias, mostrava o cientista sentado no sofá, confortavelmente, como Undertaker havia previsto. A câmera externa mostrava um carro negro estacionando em frente ao lugar. O cientista se levanta, percebendo que alguém havia chegado. Eram 4h30 da manhã. Ele abre a porta e recebe um homem, o qual abraça de forma afetiva. O homem abraçado é um sujeito velho, de terno negro. Ele apresenta o seu convidado para o cientista. O convidado usa óculos e parece sinistro.
Todos entram, eles começam a conversar. É impossível saber o que eles estão falando por leitura labial. O cientista oferece bebida e finalmente se senta, e ele e seu conhecido conversam enquanto ele abaixa o volume do som. O terceiro homem apenas observa, como um segurança.
A discussão segue por longos minutos, e o cientista parece se alterar. Quando ele tenta se levantar, visivelmente nervoso, o velho o empurra de volta para o sofá. Aponta para seu rosto. Parece ameaçá-lo. Ele se vira e fala algo para o seu "segurança". O cientista tenta fugir, erguendo-se do sofá, mas tudo o que o terceiro homem faz é puxar de seu terno um objeto, como um tubo ou cano. Ele aponta para o cientista e um estalo de luz acontece. Undertaker sente que foi nesse instante.
O corpo do cientista cai lentamente no chão, enquanto os dois homens seguem para o interior da casa.-Agora veja isto. Fulgor seleciona outra câmera e sincroniza os horários. Uma gravação em infra-vermelho revela um lugar escuro, semelhante aquele onde estão. Uma enorme porta de metal redonda e pesada é filmada pela câmera. Os dois homens se aproximam. O mais velho tenta ganhar acesso a essa porta através de um pequeno painel. Ele se irrita após algumas tentativas. Logo eles se retiram dessa sala.Undertaker olha para Fulgor, que responde o olhar como que entendendo sua pergunta. Ele se levanta, erguendo um globo de luz conjurado pela sua manopla. O globo ilumina a sala, e Fulgor caminha pelo corredor, e agora até o fim.
Undertaker o segue e ambos chegam a uma pequena câmara. A porta de metal, grande como um armário, está amassada e arrebentada no chão. Dentro daquele cofre, um laboratório particular. Totalmente vazio.