Melissa Medrow e Undertaker
Undertaker estava parcialmente sentado no escuro. A luz do luar que conseguia escapar pela janelinha gradeada daquela cela, iluminava parcialmente seu rosto pálido, dando um brilho assustador a um dos olhos do sujeito que já era naturalmente sinistro.
Os policiais, provavelmente os corruptos e/ou covardes, haviam surrado o anti-herói, obviamente. Não muito. Apenas o suficiente para relembrá-lo do quanto boa parte da polícia, mesmo com suas novas verbas, equipamentos e pessoal, continuava inapta a manter-se limpa. O que a tornava, por tabela, inapta para manter a cidade limpa. E isso apenas convencia o justiceiro de que ele realmente era necessário.
O Chefe de Polícia Bermont era um caso à parte. Um homem justo, que apesar de ter chegado atrasado na delegacia naquela madrugada, tentou compensar seu erro dando ao anti-herói os cuidados médicos necessários. Bermont era um homem de bigode grande e olhos pequenos, e até onde Undertaker sabia, ele era limpo. Cem por cento. Após uma longa bronca nos guardas encarregados da prisão, o sujeito lançou um longo olhar para Undertaker e para a mulher desacordada. Lançou algumas perguntas, que obviamente não foram respondidas, e teve que ir se estressar com a papelada e com os jornalistas.
Sentado no escuro, Undertaker estava com as costas costuradas, algumas partes do corpo enfaixadas, e relativamente drogado. Nada de dor. Mas da mesma forma, nada de vozes. Normalmente, num lugar como aquele, estaria ouvindo sussurros de almas querendo vingança, ou de mortos insatisfeitos.
Melissa acordou na cela ao lado a tempo de ver o justiceiro encarando os prisioneiros da cela à frente. Estes tentavam inutilmente se esconder embaixo dos cobertores, ou viravam as costas para o vingador dos mortos. Não queriam que ele visse seus rostos, nem que se lembrasse deles quando saíssem dali.
Melissa sentia uma dor de cabeça horrível, como se tivesse bebido um tonel inteiro de vinho e tragado as ervas do curandeiro da tribo ao norte do Palácio. A visão demorou para se ajeitar a parca claridade do lugar, e primeiramente notou que estava sem sua armadura real e suas armas. Mas o que lhe chamou mesmo a atenção eram as grandes algemas em seus braços e pés. Lembravam grandes braceletes. Com luzes e alguns poucos botões. Forçou os braços, mas era inútil. Aquela tranca era tecnológica, e parecia feita para suportar até mesmo sua incrível força.
Sentia como se uma descarga elétrica - suave, mas irritante - passasse do aparelho diretamente para seus ossos. Era como estar constantemente com cãibra. Não conseguia forçar seus músculos.
Tudo estava quieto, senão pelo tremer dos queixos dos outros prisioneiros e seus murmuros, e o abafado som de uma televisão ligada, na sala ao lado, onde estavam alguns guardas. Undertaker estava ouvindo aquilo há quase uma hora. Aparentemente a ponte do Brooklyn havia sido campo de batalha de meta-humanos. Nenhum ferido, ninguém encontrado nos destroços. Criaturas como aquela que Undertaker encontrou na casa de suas vítimas haviam sido encontradas por toda a cidade, em um total de quatro monstros que pareciam saídos de um file do Senhor dos Anéis.
A guerreira sentiu-se miseravelmente só. O caçador de pecadores sentiu-se inacreditavelmente azarado.